HISTÓRIA


Nesta secção apresentam-se alguns aspectos e informações genéricas que possam contribuir para conhecer melhor a história de Majajane, o território e a comunidade. É necessário entender que a língua local (dialecto) é sobretudo comunicada por via oral e não escrita, não estando ainda fixado a ortografia, pelo que muitos termos são transcritos da fala para a escrita através da fonética da gramática portuguesa. Tal é o caso de grafar majajane ou madjadjane, que designam uma e a mesma coisa.

O texto que se segue é da autoria de Elisa Tembe, que tem vindo a recolher diversas informações entre a população mais idosa.


1. 

Generalidades

MADJADJANE localiza-se na localidade de Salamanga, Distrito de Matutuíne, a cerca de 1 hora de viagem rodoviária desde a cidade de Maputo, a capital de Moçambique, e seguindo no sentido Sul pela estrada nacional N200, passando a nova ponte que liga esta cidade à KaTembe.

Madjadjane foi um líder comunitário (Régulo), com o nome de António Madjadjane Tembe, filho mais velho do Pubolo Madjadjane Tembe, que fazia parte da família dirigente dos Madjadjane Tembe, tendo esse lugar sido ocupado anteriormente por seu avô e depois seu pai Pubulo Madjadjane Tembe, investido na década de 50 do século 20.

O território Madjadjane estende-se numa área de sete mil hectares, e está dividido em duas partes: Madjadjane 1, que é a zona do regulado; e Madjadjane 2 (zona Cuambene), que possui 4 células.

Sob o ponto de vista geográfico, a comunidade de Madjadjane possui terras maioritariamente arenosas e a sua vegetação é do tipo florestal.

A terra é originária dos Tsongas Tembe que possui dois subgrupos de descendentes, que mais tarde se tornaram independentes, nomeadamente Maputsu e Matutuíne (que é a sede de Madjadjane). Em Matutuíne encontra-se a mata sagrada de Matutuíne, designada de Capezulo, derivado do nome do Régulo Capezulo, onde jazem os restos mortais do Nwangove e outros, como Maputsu, seu filho.

Todavia, para além dos Rongas, encontramos ainda outras etnias, nomeadamente os Nguni, que são ligados à família Zulu da região do Natal (África do Sul). Por esta razão, os contactos com países vizinhos, África do Sul e Suazilândia, são muito frequentes, realizando-se casamentos entre famílias de ambos os lados da fronteira.

A falta de oportunidades de emprego no mercado local entusiasma o fluxo e trabalho migratório (principalmente para África do Sul), que se torna uma fonte importante de rendimento.

Os nativos desta região prestam o culto aos seus antepassados em locais chamados sagrados, que são pequenas matas, onde jazem os restos mortais dos antigos Régulos tradicionais, dos Indunas (chefe de terras) e outros Madodas (conselheiros da família real do regulado).

Estes locais estão representados em pequenos cemitérios e em árvores diversas, sendo de destacar o canhueiro, a chanfuta e outras espécies nativas. A mata sagrada da comunidade de madjadjane é Muwayi, onde jazem os restos mortais do Madjadjane e outros.

As matas sagradas de Madjadjane, Capezulo, entre outras, são locais onde quase tudo é proibido. Nessas matas sagradas não se deve entrar sem autorização dos líderes locais, é proibido manter relações sexuais, usar chapéu, urinar, defecar, acender fogo, apanhar lenha, caçar, pôr gado a pastar, e trepar árvores. Não é proibido comer frutas da mata, mas deve-se comer ali, deixar o resto e ir embora.

Quem ousar entrar sem autorização não sai mais do local, porque depois desconhece o caminho a tomar para o efeito. O casal que se envolver em relações sexuais nunca mais de desliga um do outro.

Normalmente, o infractor das normas só pode ser recuperado (voltar à situação normal) quando se realizar uma cerimónia tradicional dirigida por alguém da família do regulado.

As matas sagradas é onde se realizam as cerimónias tradicionais de Kuphalha, destinadas a pedir aos antepassados a bonança nas colheitas, chuvas e soluções para ultrapassar diversas crises, dentre elas as pragas que dizimam as culturas.

Línguas faladas

Tendo por língua materna dominante o XiChangana, tal como é falado na comunidade de madjadjane, designada de Mandindindi, assim como da população do distrito de Matutuíne, algumas crianças com 5 ou mais anos de idade têm conhecimento da língua portuguesa sendo, contudo, o domínio do português predominante nos homens dada a sua maior inserção na vida escolar e no mercado de trabalho.

Analfabetismo e escolarização

A população alfabetizada em Madjadjane é predominantemente masculina, mas tem uma taxa de escolarização baixa.

Traço Sociologico

As famílias de Madjadjane, na sua maioria, são do tipo sociológico alargado, isto é, com um ou mais parentes, para além de filhos, e têm em média 3 a 5 membros.

A população de Madjadjane, segundo as crenças religiosas, são Sião (Zione), Evangélica, Católica, Testemunhas de Jeová, Velha Apóstolo, e Metodista.